domingo

- Linhas paralelas -

-Passa tudo - disse pressionando a barriga do outro com um revolver - Rápido.
O homem tremia como se alguém o estivesse sacudindo. E no desespero correu, ou melhor, tentou, a bala estourou na perna, mas ele não desistiu de correr, de tentar se salvar. E quando olhou em volta tudo estava girando, tudo estava embassando. O homem que o perseguia não era o mesmo, sua cara parecia deformada, sua voz parecia mais grave que antes. Então não aguentou mais a pressão que o ar estava exercendo sobre o seu corpo e desmoronou no chão.
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Era só mais uma tarde de domingo chata e sem nada pra fazer. A praça não estava muito vazia quando ele pisou com o pé esquerdo na beira da calçada, mas mesmo assim ele se sentia só. Não queria ir ao cinema sem companhia, não tinha com quem sentar em um dos bancos da praça e conversar até anoitecer, não tinha muitos amigos e os que tinha estavam coincidentemente ocupados quando ele ligou para os convidar para sair. Um sorvete de chocolate talvez o fizesse se sentir melhor, mas ele preferiu pegar de baunilha porque achava que combinava mais com ele: pálido, sem graça e quase ninguém quer. Caminhou em direção a uma fonte em forma de elefante que não jorrava água nenhuma e que o sol fazia com que parecesse uma chapa quente durante a tarde, sentou num banco ao lado do elefante e fixou um olhar em um balão de gas hélio que subia em direção as nuvens e logo em baixo havia uma criança pulando desesperadamente tentando o pegar de volta. Lembrou de sua infância que jamais voltaria, de sua adolescência, de suas experiências de adolescente e de todas as coisas que ele se arrependia de nunca ter tido coragem de fazer. Lembrou de Amanda, seu primeiro amor, seu primeiro sofrimento. Nunca teve coragem de dizer se quer um oi para ela. Mas isso nem importava e o sorvete ja estava totalmente derretido e escorrendo pela mão e pelo braço, ele se assustou ao olhar as horas e o tempo ele tinha estada parado ali pensando em coisas do passado, uma coisa que ele tinha prometido para si mesmo que jamais voltaria a fazer. O ar estava ficando úmido e ele espirrou. Fazendo com que a casquinha do sorvete escorregasse da sua mão e caísse se despedaçando no chão. Ele deu algumas voltas ao redor da praça observando cada movimento, cada palavra, cada sorriso, cada beijo, cada olhar, cada respiração, cada toque, cada tudo que lembrava alguma página da sua vida. Decidiu parar definitivamente com aquilo e caminhou em direção ao seu minúsculo apartamento, que ficava no corredor de uma rua. A noite estava caindo e ele percebeu estar sendo seguido e pegou as chaves do seu apartamento pressentindo alguma coisa ruim. O homem o abordou puxando-o pelo braço e colocando uma arma de fogo em sua barriga.
-Passa tudo - disse pressionando a barriga do outro com um revolver - Rápido.
O homem tremia como se alguém o estivesse sacudindo. E no desespero correu, ou melhor, tentou, a bala estourou na perna, mas ele não desistiu de correr, de tentar se salvar. E quando olhou em volta tudo estava girando, tudo estava embassando. O homem que o perseguia não era o mesmo, sua cara parecia deformada, sua voz parecia mais grave que antes. Então não aguentou mais a pressão que o ar estava exercendo sobre o seu corpo e desmoronou no chão.
Não, ele não acordou. Não na mesma hora. Estava em sua cama, cabelo bagunçado, o lençol da cama totalmente fora do lugar e a luz da caixa de mensagens do telefone piscando. Uma nova mensagem:
"Leandro, você não vem? Estou te esperando a quase meia hora e você ainda não apareceu. Me liga imediatamente, beijo."
Ele pulou da cama como se estivesse deitado por cima de pregos, puxou o telefone, discou os números desesperadamente.

Estava tudo bem, foi só mais um dos seus pesadelos causados pelos traumas da adolescência.
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2 comentários:

vaaaaaaaaaani :* disse...

foda,,,simplismente FODA1!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Fantastico esse texto...Ele começa parecendo um sonho...e de repente te joga a realidade na cara...pra você então descobrir que estava num sonho!A violência das nossas ruas é a violência dos nossos sonhos e vice versa!Uma se alimenta da outra...