terça-feira

Estou de luto. Luto do qual não sei se sairei ou se quero sair. Luto não só de vestir preto, mas de vestir qualquer cor e não sentir-se adequado a nenhuma delas.

Acho que não luto nem lutei o suficiente pelo o que quero. Talvez por saber que não vou conseguir. E sem esse pedaço nada valerá a pena.

Amanhã tudo isso terá passado. Depois de amanhã voltará, mais forte talvez. É um ciclo. Um circulo de fogo que vai cauterizando paulatinamente os sentimentos. Modificando-os. Não deixando que sejam os mesmo nunca mais.

Se chegar aos sessenta, serei mais duro que minha cara de pau. Como posso ter a ousadia de ainda sentir isso? Puno-me. Rasgo meu cérebro em trilhões de pedaços para parar de sentir. Ele se regenera.

E eu, andando pelas ruas com cara de nada, ainda me vejo procurando um rosto onde não tem. Esse rosto de duas ou mais caras. Que late, morde, lambe e não decide se prefere ferir por diversão ou deixar que alguém o abrace.

domingo

Era apenas um menino...

Era apenas um menino. E por ser apenas um menino não entendia muito bem as coisas. Quando alguém ensaiava dizer-lhe um não, chorava. Na verdade morria um pouco mais por dentro quando sentia que queria algo que não podia sequer desejar.

Não se pode querer tudo. Isso se descobre quando fere. O sangue de uma paixão frustrada é o pior acido que pode percorrer nossas veias. Queima, arde, marca e demora, quando deixa, a cicatrizar.

O menino não entende por que seu peito dói quando vê aquela determinada pessoa parada ao seu lado e não pode fazer nada. Não pode nem pensar em dizer o que sente. Pode perder as esperanças e os pedaços de um sonho já construídos podem desmoronar-se e mais uma vez a escuridão tomar-lhe as emoções. Pode mais uma vez tornar-se escravo de suas lagrimas, travesseiro e pensamentos tristes e paranóicos.

“E se...” Enche o peito de esperanças a pobre criança presa num corpo maior que o adequado. Esperança. Uma palavra que não se encaixa nessa historia. Se ela existe é para deixá-lo bem e fazê-lo pensar que pode, ao fim de tudo, ainda sorrir verdadeiramente.

Não se conforma em ter que conformar-se. Por fim dorme. Acorda. Dorme. Acorda e dorme ao mesmo tempo. Já não sabe o que é realidade, o que é desejo e o que sente. Se aquele misto de amor e paixão conseguiria realmente arrancar com as unhas pequenos pedaços de pele das costas daquele objeto fixado em sua mente.

Tentou fechar os olhos e voltar. Voltar para quando não trocavam palavras, quando suas digitais nunca tinham se encontrado. Mas não podia. Não pode voltar. O tempo corre e atropela o coração. O sangue, onde estava registrado o ultimo olhar, mistura-se com uma única gota de saliva gasta para dizer seu triste epitáfio: Estou morto por dentro e o que resta não importa. Observo-o de longe, não me machuco mais. Nada sinto.

Sei que é cedo
Para dizer que alguém me faz sofrer
Mas sei que é tarde para não dizer
Como gostar de alguém?
Como se apaixonar por alguém?
Eu sempre soube que doeria
Mas não pude evitar
Nunca pude, não posso

Grito ao mundo o falso forte que sou
Mas quando escrevo minhas fraquezas tornam-se água
Escorrem por entre as palavras
Não consigo esconder (de mim mesmo)
Não consigo não pensar
E não me venha dizer que é pra tentar
Pois de tentações vivo eu

Tento, não consigo
Durmo para fugir
Anestesio com os sonhos
E quando acordo doi mais ainda.